Com uma área que ultrapassa os onze mil e quinhentos hectares e com uma população atual de 12.521 habitantes (censos de 2021), a freguesia de Rio Maior ocupa a zona centro e oeste do respetivo concelho e recebe a designação do rio que nasce no seu território, mais propriamente no local designado por Bocas, lugar de Freiria.
A cidade de Rio Maior, sede da freguesia e concelho, é constituída por onze bairros, e, para além desta localidade, a freguesia conta com um total de trinta e nove lugares.
As condições climatéricas e recursos naturais justificam que o povoamento humano na zona remonte à pré-história, nomeadamente ao Paleolítico Inferior e Superior, conforme o comprovam trabalhos arqueológicos realizados, entre outros, por Manuel Heleno, nas décadas de 30 a 50 do século passado, na citada zona das Bocas, bem como nas grutas naturais da Senhora da Luz.
Segundo as fontes históricas disponíveis, podemos afirmar que a localidade de Rio Maior, com esta mesma designação, existe à data da reconquista cristã e formação da nacionalidade, deste facto fazendo prova o documento de 1177 referente à venda de quinta parte das salinas de Rio Maior por Pero d'Aragão e sua mulher, Sancha Soares, à Ordem do Templo, assim como um documento datado de 1191, de iniciativa do rei D. Sancho I, filho de D. Afonso Henriques, relativo à repartição de dízimos de Rio Maior entre o prior da Igreja de Santa Maria da Alcáçova de Santarém e os frades da mesma.
A Igreja de Santa Maria da Alcáçova de Santarém, construída em 1154 pelos Templários e incluída no rol das igrejas que D. Afonso Henriques doou a esta ordem, possuía um vasto património material e estendia a sua influência religiosa a várias localidades. Era a igreja matriz de povoações como Azóia, Alcoentre e Rio Maior, que ficavam "dentro dos limites da freguesia de Santa Maria da Alcáçova - sunt site in parrochia dicte ecclesie da Alcaçova." (Costa, 1981, p. 7). As capelas destas localidades estavam ligadas a esta igreja matriz e era em seu nome "que recebiam os dízimos, as ofertas e os outros direitos" (idem, ibidem). A data de autonomização destas paróquias, incluindo Rio Maior, em relação a Santa Maria da Alcáçova é desconhecida.
A localização da antiga villa romana, descoberta na década de 90 do século passado na margem norte do rio Maior, coincide com o local que terá sido ocupado pela capela original, mais tarde igreja matriz da paróquia, da qual persiste ainda, nos dias de hoje, uma torre, desenvolvendo-se o povoado, nos séculos posteriores, na margem oposta da linha de água.
A documentação disponível comprova também que esta zona, apelativa pela sua localização, e pelos referidos clima e recursos geológicos e minerais, de que são exemplos paradigmáticos o ferro e o sal, foi durante toda a idade medieval disputada por ordens religiosas como os Templários, a Ordem de Cister e a Ordem de São Bento de Avis, para além do poderio régio, senhorial e inclusive municipal.
Na primeira contagem populacional, realizada em 1527, a aldeia e freguesia de Rio Maior, pertencente à comarca de Santarém, contabiliza 98 vizinhos, número que representa algum peso demográfico, comparativamente a localidades vizinhas.
No mapa da rede viária medieval, delineado com base nos itinerários utilizados por D. Dinis por Júlia Galego, João Garcia e M. F. Alegria, constante no segundo volume da História de Portugal de José Mattoso, Rio Maior situa-se numa das vias que aquele monarca terá usado e que ligava Santarém à Atouguia. Contudo, durante a Idade Média, o lugar de Rio Maior não terá sido somente utilizado como local de passagem para os reis e suas cortes, mas escolhido inclusive para estadia, nomeadamente por D. Fernando e D. João I.
O Paço onde estes monarcas ficariam hospedados erguia-se no ponto mais elevado do lugar, conhecido atualmente como Alto da Capela, e, entre outras edificações, o mesmo incluiria uma torre de menagem, a qual, segundo planta delineada pelo capitão M. Campos em 1789, ainda persistia nos finais do século XVIII. Atualmente, resta parte do muralhado que envolvia esse Paço.
A localização estratégica e a passagem de importantes vias pelo seu território, incluindo a estrada real mandada traçar por D. Maria I em 1791, explicam, em parte, que a freguesia de Rio Maior e o concelho em geral fossem também palco da movimentação e aquartelamento de tropas nos principais conflitos ocorridos no país entre os séculos XVII e XIX, existindo registos de manobras militares no território durante a Guerra da Restauração, as invasões napoleónicas, a revolução liberal, a guerra que opôs os irmãos D. Miguel e D. Pedro I e a Guerra da Patuleia.
Mas apesar da relevância estratégica e localização privilegiada, bem como das benesses reais que vai obtendo, como a que diz respeito à instituição da Feira de Setembro em 1722, por iniciativa de D. João V, Rio Maior manter-se-á sob o jugo de Santarém, permanecendo como uma das freguesias do termo desta vila até ao século XIX.
Pela Memória Paroquial redigida pelo prior João da Cunha Guedes, em 1758, ficamos a saber que neste período a paróquia de Rio Maior, com evocação a Nossa Senhora da Conceição, era então constituída pela localidade sede, nove aldeias e vários casais, que no seu conjunto albergavam 632 vizinhos.
Rio Maior só irá obter a sua autonomia em 1836, no âmbito da reorganização administrativa levada a cabo pelo ministro Passos Manuel, no decurso do reinado de D. Maria II, com a promulgação do decreto de 6 de novembro desse ano, pelo qual obtém o duplo estatuto de vila e sede de concelho.
Apesar da alteração de posição, até às primeiras décadas do século XX, o progresso da vila de Rio Maior e correspondente freguesia decorrerá de forma vagarosa. A esmagadora maioria da população continua ligada à atividade agrícola, o número de unidades fabris é reduzido e um número limitado de pessoas dedica-se ao comércio e serviços.
Na década de 40, uma significativa mudança irá decorrer em termos da tessitura social e económica de Rio Maior, associada à intensificação do processo de exploração mineira, nomeadamente da lignite, num processo conduzido pelo governo da época, o qual face às dificuldades de importação de matérias primas e combustíveis, associadas à deflagração da Segunda Guerra Mundial, irá apostar nos recursos nacionais. Entre os censos de 1940 e 1950, a população da freguesia de Rio Maior cresce mais de 19%, muito por conta da fixação dos trabalhadores que irão ser contratados para o Complexo Mineiro do Espadanal e respetivas famílias. O perímetro urbano da vila amplia-se e novos serviços e estabelecimentos comerciais são implantados.
Na transição do século XX para o atual, a aposta no setor desportivo irá criar nova dinâmica, ganhando Rio Maior o apelido de "Cidade do Desporto". Tal designação justifica-se quer pelos investimentos feitos em serviços e infraestruturas ligados à área, caso do Centro de Estágios e Formação Desportiva ou da Escola Superior de Desporto, quer pelos resultados obtidos em competições nacionais e internacionais por atletas vinculados aos clubes locais, ou que aqui realizam o seu treino e formação.
Para além disso, Rio Maior beneficiou, nos últimos anos, dos investimentos nacionais realizados ao nível de acessibilidades, nomeadamente com a ligação à rede de autoestradas. A rede viária, a par com a localização no centro do país, junto à orla marítima e a curta distância da capital, bem como a implantação de uma Zona Industrial e de um Parque de Negócios são fatores que têm potencializado a atratividade ao nível de investimentos.
No futuro, perspetiva-se que a cidade de Rio Maior, correspondente freguesia e concelho prossigam numa rota de progresso e que a região, por todos os seus atrativos, continue como no passado a ser escolhida como local de passagem, visita ou fixação.
FONTES:
ANTT - Chancelaria de D. João V, Livro 61 fl. 130v. e 131
ANTT - Mesa da Consciência e Ordens, Ordem de Cristo, Tombos Gerais, N233 fl 175
ANTT - Ordem de Avis e Convento de São Bento de Avis, mç. 2, n.º 103
ANTT – Feitos da Coroa, Núcleo Antigo 293
BIBLIOGRAFIA:
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